C. N.
O organista de igreja e compositor belga César
Franck (Liège, 10 de dezembro de 1822-Paris, 8 de novembro de 1890) é dono de um
repertório razoavelmente vasto, mas desigual. Infelizmente é mais conhecido
pelo meloso Panis Angelicus, de sua por outro lado bela Messe
à trois voix, op. 12. Seus pontos altos, porém, são altíssimos, em especial
as peças para órgão (aqui; aqui; aqui), às quais aplicou com grande felicidade sua
reinvenção da forma cíclica (uma extensão da forma sonata de dois temas); a Sonate pour violon [violino] et piano en la
majeur; e, ainda mais especialmente, o Prélude, Choral et Fugue, um dos ápices da música para piano solo. (Muitos
consideram o poema sinfônico Les Béatitudes sua obra máxima;
confesso, todavia, que ao menos até agora não posso senão discrepar dessa
consideração.)
Recomendo
vivamente o Prélude, Choral et Fugue na
interpretação magnífica de Jorge Bolet. Nesta homenagem
a Bach (com ecos distantes de Beethoven), a forma cíclica
atinge o apogeu, especialmente pela recapitulação na Fuga dos
temas do Prelúdio e do Coral, mas também pelas
complexas relações temáticas de que se tece toda a peça. Há porém muito mais de
notar, como o impressionante modo cromático, de todo próprio, de que Franck
permeia tanto o Coral como a Fuga.
A
peça como um todo é perfeitamente barroca, não fosse Franck um devoto de Bach. Em
todo o seu rico e tocante tecido, é como uma constante alternância entre a
angústia e a esperança, entre a escuridão e a luz, alternância que acaba por
resolver-se pela luz num extático final.
Boa
audição.
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