[In Suma Teológica, II-II, q. 91, a. 2.]
• “O louvor pela voz é necessário para estimular a
afeição humana por Deus. Por isso, qualquer coisa que seja útil para tal é
assumido convenientemente no louvor divino. Também é verdade que, segundo as diferenças das melodias, as
pessoas são movidas a sentimentos diferentes. A esta conclusão chegaram
Aristóteles e Boécio. Por isso foi salutar a introdução do canto nos louvores
divinos para que os espíritos mais fracos fossem mais incentivados à devoção. A
este respeito, escreve Agostinho: ‘Inclino-me a aprovar a prática do canto na
Igreja para que, pelo deleite auditivo, as almas fracas se elevem em piedoso
afeto’. E diz de si mesmo: ‘Chorei
a ouvir os teus hinos e cânticos, profundamente emocionado pelas vozes de tua
Igreja, que canta suavemente’” (corpus).
• “Deve-se dizer que os cantos espirituais podem
significar não só o que se canta interiormente, mas também o que as palavras
sonoras dizem exteriormente: assim, a devoção é estimulada por tais cantos” (ad
1).
• “Deve-se dizer que Jerônimo não condena
em absoluto o canto, mas repreende os que na Igreja cantam de modo teatral, não para excitar a devoção, mas antes
para exibir-se e deleitar-se. Razão por que diz Agostinho: ‘Quando atendo mais à melodia que ao
significado das palavras cantadas, confesso que o faço e devo penitenciar-me:
prefiro então não ouvir o cantar’” (ad 2).
• “Deve-se dizer que é
mais excelente aumentar a devoção das pessoas pelo ensino da doutrina e pela
pregação do que pelo canto. Por isso os diáconos e os bispos, aos quais
compete excitar as almas à devoção a Deus pelos ensinamentos doutrinários e
pela pregação, não devem dedicar-se aos cantos, para que por causa destes não descuidem
das tarefas mais importantes [...]. Afirma Gregório: ‘É muito repreensível o
costume dos diáconos de dedicar-se aos cânticos, pois a eles compete o ofício da
pregação e da distribuição de esmolas aos pobres’” (ad 3).
• “Deve-se dizer, como ensina Aristóteles: ‘Para
ensinar, não se devem usar flautas nem instrumentos semelhantes, como a cítara
e outras, mas tudo o que possa contribuir para os ouvintes serem bons’, até
porque tais instrumentos musicais movem mais a alma ao deleite que à formação
da boa disposição interior. No Antigo Testamento, usavam-se esses instrumentos
quer porque o povo era mais grosseiro e carnal, e por isso devia ser
estimulado não só por tais instrumentos, como pelas promessas terrenas; quer porque tais instrumentos materiais eram figurativos” (ad 4).
• “Deve-se dizer que, quando dá muita atenção ao
canto para deleitar-se, o espírito deixa de considerar as palavras cantadas. Se porém a pessoa canta em razão da devoção, mais atentamente perceberá o
sentido das palavras, porque se demora mais nelas, e porque, como diz
Agostinho: ‘Todos os afetos de nosso espírito, conforme a sua diversidade,
descobrem modalidades próprias da voz e do canto pelas quais quais se movem por uma
secreta familiaridade’. O mesmo se aplica aos que ouvem os cânticos, os quais, ainda que às vezes não entendam o que
se canta, entendem, todavia, a razão do canto, ou seja, o louvor a Deus. E isto
é suficiente para despertar a devoção” (ad 5).