C. N.
Como o explica suficientemente Alfred Einstein em sua biografia de Franz Schubert (1797-1828), este compositor austríaco desde o início se debateu entre duas influências: a de Beethoven e sua exacerbação apaixonada, que Schubert dizia repudiar, mas cujo peso, de modo geral, era então muito grande; e a do classicismo anterior. Diga-se, aliás, algo semelhante de Brahms, que destruiu todas as suas partituras que julgava demasiado românticas. Mas com uma diferença: enquanto este, se se excetua sobretudo sua Segunda Sinfonia e poucas outras peças, substituiu tal radicalismo por uma música grandemente soturna (ainda que raramente destituída de alguma beleza), Schubert, por seu lado, quando superava suas próprias limitações (com efeito, suas primeiras Sinfonias são de qualidade inferior) e a influência da exacerbação apaixonada do Romantismo, fazia música de delicadeza, claridade e sublimidade raramente alcançadas nesta corrente musical (lembremo-nos de que Bruckner não é propriamente romântico). É o caso de sua Nona Sinfonia (“a Grande”) e de seus Quartetos e Quintetos de Cordas. Entre estes se destacam, muito especialmente, o Quinteto chamado A Truta e, ainda mais especialmente, o Quinteto em Dó maior, D. 956, Opus 163 (para dois violinos, viola e dois violoncelos).
Publicaremos aqui essas três peças em vídeo, a começar pelo último Quinteto (na postagem seguinte a esta). Como disse o pianista Artur Rubinstein, esta peça, e em particular seu Adagio, é como “a entrada para o céu”. Como toda peça artística, porém, não pode ser senão um primeiro passo: parafraseando ao Platão do Banquete, digamos que pode ser um primeiro degrau para a ascensão do belo sensível ao Belo suprassensível – o Belo propriamente dito.
Antes de tudo, pois, escutemos as palavras do grande pianista.
[Entre as gravações da Nona Sinfonia de Schubert, agrada-nos particularmente a de Günter Wand; entre as dos Quartetos completos, a do Melos Quartett Stuttgart; entre as d'A Truta, tanto a de Jorg Demus como a do Borodin Quartet; e, entre as do Quinteto em Dó maior, D. 956, muito especialmente a do Brandis Quartet.]