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sábado, 21 de janeiro de 2012

O canto litúrgico segundo Santo Tomás de Aquino



[In Suma Teológica, II-II, q. 91, a. 2.]

“O louvor pela voz é necessário para estimular a afeição humana por Deus. Por isso, qualquer coisa que seja útil para tal é assumido convenientemente no louvor divino. Também é verdade que, segundo as diferenças das melodias, as pessoas são movidas a sentimentos diferentes. A esta conclusão chegaram Aristóteles e Boécio. Por isso foi salutar a introdução do canto nos louvores divinos para que os espíritos mais fracos fossem mais incentivados à devoção. A este respeito, escreve Agostinho: ‘Inclino-me a aprovar a prática do canto na Igreja para que, pelo deleite auditivo, as almas fracas se elevem em piedoso afeto’. E diz de si mesmo: ‘Chorei a ouvir os teus hinos e cânticos, profundamente emocionado pelas vozes de tua Igreja, que canta suavemente’” (corpus).
“Deve-se dizer que os cantos espirituais podem significar não só o que se canta interiormente, mas também o que as palavras sonoras dizem exteriormente: assim, a devoção é estimulada por tais cantos” (ad 1).
“Deve-se dizer que Jerônimo não condena em absoluto o canto, mas repreende os que na Igreja cantam de modo teatral, não para excitar a devoção, mas antes para exibir-se e deleitar-se. Razão por que diz Agostinho: ‘Quando atendo mais à melodia que ao significado das palavras cantadas, confesso que o faço e devo penitenciar-me: prefiro então não ouvir o cantar’” (ad 2).
“Deve-se dizer que é mais excelente aumentar a devoção das pessoas pelo ensino da doutrina e pela pregação do que pelo canto. Por isso os diáconos e os bispos, aos quais compete excitar as almas à devoção a Deus pelos ensinamentos doutrinários e pela pregação, não devem dedicar-se aos cantos, para que por causa destes não descuidem das tarefas mais importantes [...]. Afirma Gregório: ‘É muito repreensível o costume dos diáconos de dedicar-se aos cânticos, pois a eles compete o ofício da pregação e da distribuição de esmolas aos pobres’” (ad 3).
“Deve-se dizer, como ensina Aristóteles: ‘Para ensinar, não se devem usar flautas nem instrumentos semelhantes, como a cítara e outras, mas tudo o que possa contribuir para os ouvintes serem bons’, até porque tais instrumentos musicais movem mais a alma ao deleite que à formação da boa disposição interior. No Antigo Testamento, usavam-se esses instrumentos quer porque o povo era mais grosseiro e carnal, e por isso devia ser estimulado não só por tais instrumentos, como pelas promessas terrenas; quer porque tais instrumentos materiais eram figurativos” (ad 4).
“Deve-se dizer que, quando dá muita atenção ao canto para deleitar-se, o espírito deixa de considerar as palavras cantadas. Se porém a pessoa canta em razão da devoção, mais atentamente perceberá o sentido das palavras, porque se demora mais nelas, e porque, como diz Agostinho: ‘Todos os afetos de nosso espírito, conforme a sua diversidade, descobrem modalidades próprias da voz e do canto pelas quais quais se movem por uma secreta familiaridade’. O mesmo se aplica aos que ouvem os cânticos, os quais, ainda que às vezes não entendam o que se canta, entendem, todavia, a razão do canto, ou seja, o louvor a Deus. E isto é suficiente para despertar a devoção” (ad 5).