C. N.
Como diz Sylvio Lago, as
execuções gouldianas de Bach são “apuradas em todos os sentidos, com um toucher primoroso e que pela sua
perfeição nos permite imaginar um bordado traçado a mão livre”. Tudo aqui é perfeito:
completo domínio da dinâmica do instrumento, com extraordinária acumulação de
intensidade; raro equilíbrio das duas mãos e rara capacidade de sustentação rítmica;
além de absoluta prevalência da clareza polifônica – como já se disse, ouvir a
Gould é como ver uma radiografia da música. Esteja ele a imprimir-lhe uma
lentidão quase musicalmente impossível, ou a atacar o teclado com virilidade inigualável,
eis que se nos depara cada nota em toda a sua limpidez. Mais: eis que se nos
depara o mesmo Bach em toda a sua luminosidade.
Em
tempo:
Todas e quaisquer excentricidades são de todo acidentais ao que de fato nos
interessa aqui: a música.
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