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sexta-feira, 31 de julho de 2015

As sinfonias de Richard Wetz e as de Franz Schmidt


C. N.

Tanto o alemão Richard Wetz (1875-1935) como o austríaco Franz Schmidt (1874-1939), ainda que mais o primeiro que o segundo, foram epígonos de Anton Bruckner. Não o dizemos, porém, no sentido pejorativo da palavra epígono (‘mero imitador’), mas no de ‘discípulo ou continuador’. Entre um discípulo ou continuador e seu mestre, há verdadeira comunidade de intenção, e, com efeito, se Wetz e Schmidt reproduzem de algum modo mas talentosamente os cânones da arte sinfônica de Bruckner, não há de ser senão porque comungam de tais cânones. Há aqui, no entanto, um aparente paradoxo, que decorre do próprio caráter da música (como se explica em As Artes de Belo: Imitação e Fim, a obra de cuja escrita agora nos ocupamos): o que mais estritamente se mostra epígono de Bruckner, ou seja, Wetz, não comunga do cristianismo do mestre austríaco, do qual todavia comunga de algum modo Schmidt. Com efeito, o pensamento de Wetz é de fundo gnóstico, ainda que o compositor, salvo engano, não se filiasse a nenhum grupo tal; enquanto o de Schmidt é de fundo cristão, como se diz em A música majestosa de Franz Schmidt e em “O Livro dos Sete Selos”, a obra-prima de Franz Schmidt.
Como seja, são magníficas as sete sinfonias a que se dá enlace abaixo. Ousamos dizer que o são mais as de Wetz, talvez justamente por se aproximarem mais da escrita bruckneriana. E a pergunta de por que estes dois grandes compositores – talvez os melhores do século XX, junto com Arvo Pärt – foram e são tão injustamente esquecidos tem resposta fácil: Wetz, talvez em razão de seu mesmo pensamento gnóstico, filiou-se ao partido nazista, enquanto a Schmidt se acusou de colaboração com o regime hitlerista (acusação fundamentalmente falsa, como se mostra nos artigos a que remetemos acima). Mas nada na arte sinfônica de Wetz deixa transparecer seu gnosticismo nem sua filiação partidária, assim como nada na de Schmidt deixa transparecer seu pensamento político.
Entreguemo-nos pois à fruição de tão altos cumes da melhor arte do século XX.
Observação 1. Enquanto, por “nazistas” (as aspas referem-se a Schmidt), se devota ao esquecimento a artistas da estatura de Wetz e de Schmidt, eleva-se ao panteão do mundo a artistas como o russo Shostakovich (1906-1975), apesar de sua colaboração com o regime bolchevista, ou como o finlandês Sibelius (1865-1957), apesar de seu pertencimento à maçonaria. Ambos, o russo e o finlandês, eram talentosos (de notar, especialmente, os 24 Prelúdios e Fugas, opus 87, do primeiro, e a Quinta Sinfonia do segundo); perdem-se todavia em concessões não só à cacofonia moderna, mas, no caso de Shostakovich, também aos ditames do realismo socialista, e, no de Sibelius, a um nacionalismo grandiloquente e extravagante. São artistas inferiores a Wetz e a Schmidt.        
Observação 2. O sentido pejorativo da palavra epígono torna-se o principal com o Romantismo e seu culto ao gênio individual. Até então, todos os artistas se consideravam de algum modo epígonos de um mestre ou de vários.  


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