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quinta-feira, 16 de julho de 2015

Outras anotações acerca da obra sinfônica de Mahler


C. N.

1) Ao contrário do que se dá nas sinfonias de Bruckner, em todas as de Mahler há algum movimento burlesco ou até grotesco. Mas em suas melhores sinfonias (a Segunda, a Terceira e a Quarta, como dito anteriormente) isso serve de escalão que, superado, leva à redenção final.* Na Quinta não se tem certeza disso; Leonard Bernstein afirmava que se trata de uma paródia de redenção religiosa, mas preferimos suspender o juízo. Da Sexta em diante, porém, perde-se sem dúvida aquela escala ascensional para a redenção. Na própria Sexta, porque termina em trágico; na Sétima, porque toda esta sinfonia, por sua própria cacofonia geral, é uma como esfinge; na Oitava, porque se tem, sim, ascensão, mas ao “céu” gnóstico; na Nona, porque termina em adeus melancólico e demasiado terreno, em parte inspirado em Beethoven.
2) Note-se, ademais, que na Terceira Sinfonia o texto de Nietzsche também serve de mero escalão, que se superará.
3) Na Quarta Sinfonia, o texto final, sobre a vida eterna, é inteiramente pueril. Não se exija dele nenhum rigor teológico.
4) É inigualável a como marcha fúnebre que constitui o primeiro movimento da Segunda, da Quinta e da Sexta Sinfonia de Mahler. De marcar-nos para sempre a memória musical.
5) Diga-se por fim que, conquanto se contasse entre os admiradores e herdeiros de Bruckner, Mahler não chegou a entendê-lo perfeitamente, razão por que, ao reger as sinfonias de seu amigo austríaco, as deformava de diverso modo. E isto talvez se devesse, em parte, ao dito por Lauro Machado Coelho: “Enquanto para Bruckner Deus era a solução, para Mahler era [de algum modo] um problema”.  Mas insistimos em que tal não aparece na Segunda, na Terceira e na Quarta Sinfonia deste.




* Assim como, mutatis mutandis, o gélido Scherzo da Nona Sinfonia de Bruckner serve de escalão que, superado, leva primeiro à morte e por fim ao umbral da eternidade.

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