C. N.
1) Ao contrário do que
se dá nas sinfonias de Bruckner, em todas as de Mahler há algum movimento
burlesco ou até grotesco. Mas em suas melhores sinfonias (a Segunda, a Terceira e a Quarta, como
dito anteriormente) isso serve de escalão que, superado, leva à redenção final.* Na Quinta
não se tem certeza disso; Leonard Bernstein afirmava que se trata de uma paródia
de redenção religiosa, mas preferimos suspender o juízo. Da Sexta em diante, porém, perde-se sem
dúvida aquela escala ascensional para a redenção. Na própria Sexta, porque termina em trágico; na Sétima, porque toda esta sinfonia, por
sua própria cacofonia geral, é uma como esfinge; na Oitava, porque se tem, sim, ascensão, mas ao “céu” gnóstico; na Nona, porque termina em adeus
melancólico e demasiado terreno, em parte inspirado em Beethoven.
2) Note-se, ademais, que
na Terceira Sinfonia o texto de
Nietzsche também serve de mero escalão, que se superará.
3) Na Quarta Sinfonia, o texto final, sobre a
vida eterna, é inteiramente pueril. Não se exija dele nenhum rigor teológico.
4) É inigualável a como marcha fúnebre que constitui o primeiro movimento da Segunda, da Quinta e da Sexta Sinfonia de
Mahler. De marcar-nos para sempre a memória musical.
5) Diga-se por fim que,
conquanto se contasse entre os admiradores e herdeiros de Bruckner, Mahler não
chegou a entendê-lo perfeitamente, razão por que, ao reger as sinfonias de seu
amigo austríaco, as deformava de diverso modo. E isto talvez se devesse, em parte,
ao dito por Lauro Machado Coelho: “Enquanto para Bruckner Deus era a solução, para
Mahler era [de algum modo] um problema”. Mas insistimos em que tal não aparece na Segunda, na Terceira e na Quarta Sinfonia
deste.
* Assim como, mutatis mutandis, o gélido Scherzo da Nona Sinfonia de Bruckner serve de escalão que, superado, leva
primeiro à morte e por fim ao umbral da eternidade.
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