C. N.
A Quinta Sinfonia de Mahler tem de grande sobretudo o primeiro
movimento (Marcha Fúnebre: A passo comedido, como um cortejo)
e o Adagietto, o único movimento sinfônico mahleriano em
que só atuam as cordas. Em outro escrito, porém, dissemos que o último movimento desta
sinfonia (Rondò-Finale: Rápido — Rápido jocosamente: Fresco)
não está à altura do restante da obra — e assim é por sua mesma indefinição. Com
efeito, o último movimento da Quinta de
Mahler tem algo do último da Quinta de
Bruckner: trechos fugados, coda com determinado modo de recapitular temas (na
sinfonia de Mahler especialmente o tema do Adagietto),
etc. Mas, antes de tudo, falta a este movimento mahleriano aquela sensação de
atingimento da eternidade presente nos finais brucknerianos e que tanto
maravilhava ao maestro Sergiu Celibidache, efeito conseguido por tutti que são como cúpulas barrocas – como a da basílica do Mosteiro de St. Florian, ao lado de cujo órgão
está enterrado o compositor. E, para reforçar o que se quer dizer aqui,
transcrevam-se as seguintes palavras de Rafael Fonseca a respeito deste último
movimento mahleriano: “Alegria genuína ou forçada? Os analistas se dividem a
este respeito, e alguns veem aqui um Mahler observando à distância o que é ser
feliz, como se usufruir essa sensação fosse para ele impossível. Pode ser, pode
ser... Mas o fato é que este movimento é de uma inquietação total. Os episódios
se sucedem em espiral, comemoram e brincam. Numa conclusão surpreendente, a
música entra em um redemoinho ansioso e irrefreável e some, como que retirada
de cena por seu autor, sem o retumbante acorde derradeiro que uma obra dessa
estatura pediria. Talvez porque a saga descrita aqui não termine neste
movimento, mas tenha continuidade na Sexta”
– que, como dito, e em oposição à Segunda,
à Terceira e à Quarta do mesmo Mahler, é trágica.
E, afinal, o jocoso não
pode ser sublime.