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quarta-feira, 7 de dezembro de 2016

Bach: Erbarme dich - Marianne Beate Kielland (belíssima interpretação)


Erbarme dich, mein Gott,
um meiner Zähren willen!
Schaue hier, Herz und Auge
weint vor dir bitterlich.
Erbarme dich, mein Gott.

Tem misericórdia, meu Deus,
por causa de minhas lágrimas!
Olha aqui, coração e olhos
a chorar amargamente diante de ti.
Tem misericórdia, meu Deus.

A morte católica do compositor Frédéric Chopin


A morte de Chopin

O sacerdote Jelowick, numa carta à Sra. Saveria Grocholska, em Paris e datada de 21 de outubro de 1849, relata assim a morte de Frédéric Chopin (1810-1849), o célebre compositor polonês naturalizado francês:

“Estimadíssima senhora: Estou ainda sob a impressão da morte de Chopin, que ocorreu em 17 de outubro deste ano. Havia muito tempo a vida de Chopin se mantinha por um fio. Seu organismo, sempre delicado e fraco, consumia-se dia a dia como a chama de seu gênio.
Todos se admiravam de que num corpo tão extenuado pudesse sobreviver a alma que tinha, da agudeza de seu intelecto ao ardor do seu coração. Seu rosto, como o alabastro, estava frio, branco e transparente; e de seus olhos, muitas vezes velados numa nuvem, refulgia ainda o brilho de um olhar vivo. Normalmente doce, afável, exuberante de espírito e de outras atraentes qualidades, parecia desprender-se da terra.
Mas ah! Infelizmente, ele não pensava no Céu. Bons amigos, tinha-os poucos e de pouca fé, não em sua arte, da qual eram adoradores, mas em crenças mais elevadas. A piedade, que Chopin recebera no seio de sua mãe, polonesa, era para ele uma distante recordação materna. A irreligiosidade de seus companheiros infiltrara-se em seu ânimo e espalhara-se por sua alma como uma nuvem cinza de desespero. Apenas sua refinada educação o impedia de fazer mofa ou escárnio da Religião. Em tão deplorável estado moral, foi acometido da grave doença no peito. Vieram dias em que lhe faltava a respiração, e já se advertia próximo seu fim ao abandoná-lo a presença de espírito. Todos se viram presas do mesmo temor e silenciosamente entraram no quarto, à espera do último momento. Nessa altura Chopin, cuja alma tinha reagido naqueles dias, devido às exortações que eu, como velho amigo, lhe dera, abriu os olhos e disse: “O que todos fazem aqui? Por que não rezam?”
Dia e noite, continuamente, tinha suas mãos entre as minhas, para dizer-me: “Tu não me abandonarás no instante decisivo”, e apoiava a cabeça sobre meu ombro, assim como uma criança se refugia em sua mãe quando percebe o perigo.
De vez em quando, com êxtase de fé, de esperança, de grande amor, ele beijava um crucifixo. Em outros momentos falava com ternura, dizendo: “Amo a Deus e amo os homens… Está bem morrer assim… Minha irmã predileta, não chores… Não choreis, meus amigos… Estou feliz… Rogai por minha alma…” Outras vezes, ao dirigir-se aos médicos que lutavam para salvar-lhe a vida, exclamava: “Deixai-me assim, Deus me perdoou e me chama para seu seio,” e em seguida: “Bela ciência, que prolonga os sofrimentos!…”
Ao aproximar-se a morte, Chopin voltou novamente a invocar o nome de Deus, beijou o crucifixo e proferiu as seguintes palavras: “Eu já me encontro na fonte da felicidade”, e expirou, confortada sua alma pela mais doce serenidade.
Assim morreu Chopin. Rogai por ele, senhora.” 

Fonte: http://adelantelafe.com/la-muerte-frederic-chopin-imperdible/.

O arrependimento do poeta Bocage à beira da morte


Já Bocage não sou!... À cova escura
Meu estro vai parar desfeito em vento...
Eu aos Céus ultrajei! O meu tormento 
Leve me torne sempre a terra dura;

Conheço agora já quão vã figura
Em prosa e verso fez meu louco intento:
Musa!... Tivera algum merecimento
Se um raio da razão seguisse pura.

Eu me arrependo; a língua quase fria
Brade em alto pregão à mocidade,
Que atrás do som fantástico corria:

Outro Aretino fui... a santidade
Manchei!... Oh! Se me creste, gente impia,
Rasga meus versos, crê na eternidade!

O Órgão e o Organista


“Deve considerar-se o grande órgão como um instrumento ou como uma orquestra, um conjunto de instrumentos movido por um só indivíduo? Inclinar-nos-íamos felizes pela segunda definição. Em todo caso, é o instrumento polifônico por excelência; representa o poder infinito. Nada lhe é impossível. Se o violino é o rei da orquestra, o órgão deve ser o deus, pois, cada vez que se digna mesclar seus acentos, é para dominá-la, protegê-la ou sustentá-la. Não aparece jamais senão como amo supremo, dominando sempre com serena majestade por sobre as massas sonoras que parecem a partir de então fundir-se sob seus pés. [...] [Os organistas] são, entre todos os virtuosos, aqueles cuja prática exige o máximo de sagacidade e de adequação, assim como a maior quantidade de erudição. O conhecimento profundo do complexo instrumento; seu manejo, que exige uma limpeza de execução de que os pianistas nem têm ideia; o agrupamento dos jogos [dos tubos], que é uma verdadeira orquestração; o estudo especial do teclado de pedais e da rica literatura musical do instrumento não constituem mais que uma pequena parte de seu saber [...]. Assim, se o órgão é realmente o instrumento dos instrumentos, como diz seu nome latino (organa), o organista é também o músico dos músicos: deve possuir, ademais, ciências técnicas, harmonia, contraponto, fuga... a inspiração, o gênio criador das formas musicais e uma presença de espírito especial, sem a qual todo o seu saber estaria condenado à esterilidade” (Albert Lavignac, La música y los músicos, Buenos Aires, El Ateneo, 1948, p. 72 e 81).

O arrependimento de um grande artista



Carlos Nougué

Michelangelo, indubitavelmente um grandíssimo artista (que o diga sua Pietà), foi durante quase toda a vida, porém, um homem típico de seu tempo, o do mal chamado Renascimento, quando esse câncer da Cristandade que é o humanismo penetrou quase tudo (a política, o pensamento, a arte, etc.), chegando por vezes até à própria Cátedra de Pedro. Já então, se se excetuarem em boa parte as Espanhas, autêntica continuidade da Idade Média e propriamente chamadas Christianitas minor, a maior parte dos homens e suas atividades tendia a não ordenar-se a seu fim último e bem comum do universo, Deus, e portanto a esquivar-se da devida submissão ao poder espiritual da Igreja. No século XIII, tudo louvava a Deus; a partir do século XVI, quase tudo tendeu a louvar o homem, e, em meio a vaivéns e por vias não raro sinuosas, o câncer vai espalhar-se até a metástase atingir o ponto derradeiro com a “vitória” do humanismo dito católico na segunda metade do século XX.
Pois bem, como dizia, Michelangelo não escapou deste mal e suas conseqüências, quer na vida privada, quer na atividade artística: idolatria do homem e da própria arte, e libertinagem. Diferentemente, contudo, de um Leonardo da Vinci ou de um Botticelli, cujas obras são de um gnosticismo muito mais acentuado e de uma sensualidade ainda mais enfermiça que os de Michelangelo, este ao fim da vida se arrependeu de tudo quanto fizera. Sabemo-lo porque o diz o próprio artista, quer pelas obras dos últimos anos (nada sensuais), quer sobretudo por um tocante soneto. Com efeito, Michelangelo costumava compor poemas para descrever cada fase de sua carreira, e não o deixou de fazer para refletir a última. E entre os poemas desta está o referido soneto, que se lê abaixo (primeiro na língua original, e em seguida em antiga tradução literária de minha lavra):

Giunto è già ’l corso della vita mia
Con tempestoso mar per fragil barca,
Al comun porto, ov’ a render si varca
Conto e ragion d’ogni opra triste e pia.

Onde l’affetuosa fantasia
Che l’arte mi fece idol’e monarca
Conosco or ben, com’ era d’error carca
E quel ch’a mal suo grado ogn’ uom desia.

Gli amorosi pensier, già vani e lieti,
Che fien or s’a duo morte s’avvicino?
Da uno so ’l certo, e l’altra mi minaccia.

Nè pinger nè scolpir fie più che quieti
L’anima, volta a quell’ amor divino,
Ch’aperse, a prender noi, ’n croce le braccia.

Tradução

Já atinge o curso desta vida minha
Com tempestuoso mar por frágil barca
O comum porto, aquele a que se atraca
Por prestar contas de obra triste ou pia.

Ora a tão afetuosa fantasia
Que me fez da arte ídolo e monarca
Eu já sei contra que faz sua carga:
O que, malgrado seu, o homem ansia*.

E os tão ligeiros e mui vãos transportes
De outrora, já perante as duas mortes?**
De uma estou certo, da outra me amofino.

Já nem estátua ou fresco*** me conduz
À paz da alma, só o amor divino,
Que a nós mui largo abraço abriu na cruz.



* “anseia”, em sua forma antiga.
** A morte do corpo, e a morte da alma condenada ao inferno.
*** afresco.

Jacobus Gallus - Opus musicum


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