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A morte de Chopin |
O sacerdote Jelowick, numa carta à Sra. Saveria Grocholska, em Paris e
datada de 21 de outubro de 1849, relata assim a morte de Frédéric Chopin (1810-1849), o
célebre compositor polonês naturalizado francês:
“Estimadíssima senhora: Estou ainda sob a impressão da morte de Chopin, que ocorreu em 17 de
outubro deste ano. Havia muito tempo a vida de Chopin se mantinha por um fio.
Seu organismo, sempre delicado e fraco, consumia-se dia a dia como a chama de
seu gênio.
Todos se admiravam de que num corpo tão extenuado pudesse sobreviver a
alma que tinha, da agudeza de seu intelecto ao ardor do seu coração. Seu rosto,
como o alabastro, estava frio, branco e transparente; e de seus olhos, muitas
vezes velados numa nuvem, refulgia ainda o brilho de um olhar vivo. Normalmente
doce, afável, exuberante de espírito e de outras atraentes qualidades, parecia
desprender-se da terra.
Mas ah! Infelizmente, ele
não pensava no Céu. Bons amigos, tinha-os poucos e de pouca fé, não em sua
arte, da qual eram adoradores, mas em crenças mais elevadas. A piedade, que
Chopin recebera no seio de sua mãe, polonesa, era para ele uma distante
recordação materna. A irreligiosidade de seus companheiros infiltrara-se em seu
ânimo e espalhara-se por sua alma como uma nuvem cinza de desespero. Apenas sua
refinada educação o impedia de fazer mofa ou escárnio da Religião. Em tão
deplorável estado moral, foi acometido da grave doença no peito. Vieram dias em
que lhe faltava a respiração, e já se advertia próximo seu fim ao abandoná-lo a
presença de espírito. Todos se viram presas do mesmo temor e silenciosamente
entraram no quarto, à espera do último momento. Nessa altura Chopin, cuja alma
tinha reagido naqueles dias, devido às exortações que eu, como velho amigo, lhe
dera, abriu os olhos e disse: “O que
todos fazem aqui? Por que não rezam?”
Dia e noite, continuamente, tinha suas mãos
entre as minhas, para dizer-me: “Tu não me abandonarás no instante decisivo”, e apoiava a cabeça sobre meu ombro, assim como uma criança se refugia
em sua mãe quando percebe o perigo.
De vez em quando, com êxtase de fé, de esperança, de grande amor, ele
beijava um crucifixo. Em outros momentos falava com ternura, dizendo: “Amo a Deus e amo os homens… Está bem morrer
assim… Minha irmã predileta, não chores… Não choreis, meus amigos… Estou feliz…
Rogai por minha alma…” Outras vezes, ao dirigir-se aos médicos que lutavam para
salvar-lhe a vida, exclamava: “Deixai-me assim, Deus me perdoou e me chama para
seu seio,” e em seguida: “Bela ciência, que prolonga os sofrimentos!…”
Ao aproximar-se a morte, Chopin voltou novamente a invocar o nome de
Deus, beijou o crucifixo e proferiu as seguintes palavras: “Eu já me encontro na fonte da felicidade”, e expirou, confortada sua alma pela mais doce serenidade.
Assim morreu Chopin. Rogai por ele, senhora.”
Fonte: http://adelantelafe.com/la-muerte-frederic-chopin-imperdible/.