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terça-feira, 21 de dezembro de 2021

TRADICIONAL VILLANCICO (CANÇÃO DE NATAL) FLAMENCO

Pelos montes da Judeia,

pelos montes

da Judeia,

uns pastores desciam

dizendo “fora daqui”

aos negros que ali estavam.

Os negros choravam

e assim lhes diziam:

“Também pros negros

veio o Messias”.

 Pastor, que levas tu

a esse divino cravo?

Uma panela de banha,

e um pote de saboroso mel.

Perus e galinhas,

linguiças e ovos.

Nozes e castanhas

e muitos filhós.

Fora as penas,

viva a alegria

porque esta noite

deu à luz Maria. (x3)

Fora as penas,

viva a alegria

porque esta noite

nasceu o Messias. (x3)

Fora as penas,

viva a alegria

porque esta noite

deu à luz Maria.

Fora as penas,

viva a alegria

porque esta noite

nasceu o Messias. (x2)


Melodia Sentimental - Olivia Byington (Villa-Lobos)


sábado, 20 de novembro de 2021

J. S. Bach, "Matthäus-Passion" BWV244, sob a regência de Helmuth Rilling

O maestro Helmut Rilling, que aprecio cada vez mais, é um regente único quanto à interpretação de Bach: instrumentos modernos, mas orquestração e execução "autenticistas", barrocas, não românticas.


terça-feira, 16 de novembro de 2021

Antônio José Madureira e OSRN - Revisitação dos Santos Reis [1999] - Maravilhoso! Creio que Villa-Lobos o teria aplaudido

Antônio José Madureira foi integrante do Quinteto Armorial, que associou a música erudita à popular, na década de 1970. Vinculava-se ao Movimento Armorial (idealizado e liderado pelo literato paraibano Ariano Suassuna). Neste álbum, Madureira e a Orquestra Sinfônica do Rio Grande do Norte homenageiam os 400 anos da cidade de Natal.

Faixas: 0:00 - 01. Loa do Potiguara (Antônio José Madureira) 1:13 – 02. Canto do Mangue (Antônio José Madureira) 5:09 – 03. Loa do Congolês (Antônio José Madureira) 6:06 – 04. Procissão dos Navegantes (Antônio José Madureira) 9:52 – 05. Loa do Mareante (Antônio José Madureira) 10:50 – 06. Fortaleza dos Reis Magos (Antônio José Madureira).


segunda-feira, 15 de novembro de 2021

JOHN WILLIAMS:CONCIERTO DE ARANJUEZ

Para mim, John Williams é o maior dos guitarristas – apesar de que ultimamente, com o sucesso e ao trocar de violão, passou a investir antes no volume que no timbre, o que me parece uma perda. Mas continuo a considerá-lo o maior dos guitarristas, aquele que aliás fundou uma como escola: a do som perfeitamente limpo, sem arranhaduras ou rascaduras.



segunda-feira, 8 de novembro de 2021

A obra-mestra de Schubert: a “Große C-Dur-Sinfonie”

A Nona Sinfonia de Schubert, “a Grande”, é para mim a melhor das sinfonias depois das de Bruckner de 4 a 9 e da Segunda de Mahler, e imediatamente antes da Segunda de Brahms, da Júpiter de Mozart, da Nona de Dvořák, etc. É uma como ode à beleza, de delicados e suaves “meios-tons”. Já segue o esquema beethoveniano de substituição do Minueto por um Scherzo, mas ainda mantém este como terceiro movimento. – Ademais, este vídeo é maravilhoso: temos nele a regência elegante, clara, expressiva, simpática de Orozco-Estrada – é como se a música saísse de suas mãos –, talvez o maior maestro dos surgidos nos últimos tempos; a orquestra extraordinária; a beleza e o brilho dos mesmos instrumentos; a elegância sóbria dos trajes; etc. Saudade grande de quando ainda podia viajar e assistia a concertos ao vivo, na cidade do Rio de Janeiro ou na de São Paulo.


sábado, 6 de novembro de 2021

Bruckner: "Präludium und Vier Preludien", peça composta quando o compositor tinha apenas 13 anos


Bruckner: "Prelude in C Major"


Bruckner: "Vorspiel und Fugue in C minor"


Bruckner: "Vorspiel und Fugue in D minor"


Anton Bruckner: "Nachspiel in D minor"


Anton Bruckner: "Abendzauber"


Bruckner: "Germanenzug"


A última e extraordinária composição de Anton Bruckner, o compositor que mais me fala à alma


Kyuhee Park -- M. Llobet, "Variações sobre um Tema de Sor"

Cada vez mais admiro a coreana Kyuhee Park, e não estou longe de considerá-la o atual cume da arte da guitarra. 


Sabine Devieilhe e Stéphane Degout cantam Händel, "Brockes Passion HWV 48", II. Soll mein Kind

Assim como, por exemplo, o só capítulo XI do livro IV da Suma contra os Gentios, de S. Tomás, vale mais que toda a literatura junta, por melhor que esta seja, assim também, ainda por exemplo, este só pequeno duo (2 minutos e meio) da longa peça religiosa de Händel (1685-1759) Brockes Passion HWV 48 vale mais que toda a música popular junta, por melhor que esta seja. E, se lhes posso dar um conselho, é que se eduquem musicalmente para poder educar musicalmente seus filhos. Como dizia Aristóteles no livro VIII de sua Política, a educação musical e a boa música, que é um análogo da virtude, ajudam a soldar a pólis, a sociedade. Mas, como devemos dizer nós, católicos, a boa música – além do que diz Aristóteles – ajuda a purificar a alma, razão por que não deixa de ser um auxiliar dos influxos da graça, e certamente é um regalo de Deus para que mais facilmente suportemos as dores deste vale de lágrimas. – Ademais, veja-se que dupla de cantores, e quanto sua arte é incalculavelmente superior à de qualquer cantor popular, por melhor que seja; e com que elegância o maestro rege seus músicos, como se a música saísse de suas próprias mãos, de modo análogo a como Deus rege o universo, no qual efetivamente nada se move sem ser movido antes de tudo pelas "mãos" do Primeiro Motor Imóvel.


sábado, 30 de outubro de 2021

“Uma Esmola pelo Amor de Deus”

O paraguaio Augustín Barrios Mangoré, um dos maiores compositores para guitarra (violão) de todos os tempos – para mim, é o maior depois de Sor –, muito pouco antes de morrer ouviu à sua porta três batidas que se repetiam. Ao abri-la, deparou com um velha senhora que lhe pedia “uma esmola, pelo amor de Deus”. Deu-lha, e imediatamente compôs esta obra-prima (executada aqui pela genial coreana Kyuhee Park, então [2015] com 29 anos). Mas Barrios, que desde sua outra obra-prima chamada A Catedral vinha dando sinais de conversão, compôs Uma Esmola pelo Amor de Deus como se estivesse, como devido, mendigando a Deus sua salvação eterna. E, com efeito, é impossível escutar esta peça sem emocionar-se religiosamente, sobretudo se é executada com a profundidade com que a executa Kyuhee Park. Boa audição, senhores, destes tocantes três minutos de grande arte.


Quem sai aos seus não degenera: Wilhelm Friedemann Bach (1710-1784), Oito Fugas, Fk. 31


sexta-feira, 29 de outubro de 2021

Anton Bruckner -- Aequale No. 1 e Aequale n. 2 para três Trombones (1847)

Já fiz pública muitas vezes, e especialmente em livros, minha admiração pelo compositor austríaco católico Anton Bruckner (1824-1896). Seus motetos, suas missas e, especialmente, suas sinfonias compõem uma das obras musicais mais conseguidas de todos os tempos. E não nos deixemos enganar por uma falsa perspectiva: essencialmente, a música de Bruckner é de louvor a Deus, e, à parte determinados recursos wagnerianos de orquestração e outros acidentes compartilhados com a música de então, só cronologicamente tem que ver com o romantismo, como o explico detidamente em “Da Arte do Belo” e em outros livros. Anton Bruckner é em verdade único, não só pelo que se acaba de dizer, mas por sua tão rica e tão própria linguagem harmônica, por sua ousada e também tão própria maneira de modular, e pelo caráter acentuadamente polifônico, sobretudo, de suas majestosas e extensíssimas sinfonias.

 “Aequale” (do latim “[ad] voces aequales”) é certa forma musical. Como seu próprio nome indica, foi originalmente composto para quaisquer vozes ou instrumentos iguais. Mas no século XVIII “aequale” se restringiu a ser termo genérico para peças curtas para conjunto de trombones. Ademais, antigos regulamentos de música sacra de Linz, Áustria, dizem-nos que os “aequales” eram usados em serviços funerários. Mais especialmente, eram executados em torres na noite anterior ao Dia de Finados e neste mesmo dia. É que o trombone, como o vemos no estupendo oratório “O Livro dos Sete Selos”, do austro-húngaro Franz Schmidt, se tornara um como símbolo musical do julgamento divino. E, com efeito, Bruckner compôs estes dois “Aequales” no final de janeiro de 1847 (durante uma de suas muitas estadas na Abadia de São Floriano, onde se criara e educara) para o funeral de sua tia Rosalia Mayrhofer. 

O manuscrito do “Aequale n. 1” (WAB 114) encontra-se no arquivo da Abadia de Seitenstetten, enquanto o esboço do “Aequale n. 2” foi recuperado posteriormente no arquivo da Abadia de São Floriano. No esboço, falta a partitura para o trombone baixo; na edição crítica do Bruckner Gesamtausgabe, todavia, a partitura que faltava foi reconstruída por Hans Bauernfeind. 

O “Aequale n. 1” e o “Aequale n. 2”, ambos em dó menor, têm respectivamente 34 e 27 compassos, e foram escritos para trombones alto, tenor e baixo. As duas obras são em formato e extensão de coral, contando a primeira com uma melodia tipicamente austríaca em sextas. Diga-se, por fim, que conjuntos instrumentais semelhantes seriam usados pelo mesmo Bruckner no chamado Choräle de sinfonias suas.


quarta-feira, 27 de outubro de 2021

sexta-feira, 24 de setembro de 2021

Uma belíssima peça de Anton Bruckner (1824-1896) para piano

                                                                                            Carlos Nougué

 O católico Anton Bruckner é o compositor de meu coração, como digo e redigo em vários livros. Mas aqui me surpreendi. Não conhecia esta peça (composta ao mesmo tempo que sua Sinfonia n. 1), nem Brucker nunca se pretendeu um compositor-pianista. Eis todavia uma pequena obra-prima, em interpretação primorosa de Asiya Korepanova. Como o diz esta, “Erinnerung [Recordação] é uma verdadeira joia que [já] mostra a maneira de Bruckner de escrever os movimentos lentos de suas sinfonias, nos quais a melodia simples inicial se desenvolve gradualmente, apoiada por linhas secundárias sempre crescentes”. E destaco eu, primeiro, o modo como se resolvem cantavelmente, com um retorno à melodia incial, as ásperas dissonâncias do meio da peça; e, segundo, o final da mesma peça, no qual, como em tantos finais de movimentos sinfônicos de Bruckner, a música parece desprender-se da matéria.



segunda-feira, 23 de agosto de 2021

6 Fugas para Violino Solo, de Bartolomeo Campagnoli

Estas “6 Fugas para Violino Solo”, de Bartolomeo Campagnoli, são mais uma magnífica demonstração da vitalidade no tardio século XVIII-XIX da Fuga, a forma musical barroca máxima.

00:01 Introduzione

01:24 Fuga I (Tempo giusto)

06:51 Prelude (Adagio)

07:46 Fuga II (Moderato)

12:54 Adagio

14:00 Fuga III (Maestoso)

18:36 Introduzione (Adagio)

19:57 Fuga IV (All.º non troppo)

24:59 Larghetto

25:58 Fuga V (Allegretto)

32:40 Andante sostenuto

33:25 Fuga VI (Tempo allo Breve) 


segunda-feira, 26 de julho de 2021

O “Stabat Mater” de Palestrina

 

Carlos Nougué

 A música polifônica religiosa de Giovanni Pierluigi da Palestrina (falecido em 1594) foi aceita pelo Concílio de Trento para a liturgia, porque, ao contrário da polifonia flamenga, cumpria um dos principais requisitos para que a música tenha lugar em nossas igrejas: a clareza com que se canta o texto, de modo que seja perfeitamente audível e entendível para todos. Pois bem, o Stabat Mater de Palestrina é uma de suas peças mais sublimes, como o constatareis por vós mesmos.

Mas Palestrina não deixava de ser um homem de seu tempo, o Renascimento, e compôs alguns madrigais (forma musical típica da época) com textos que ecoavam em algum grau, ainda, a pegajosa e enjoativa poesia dos trovadores cátaros ou influídos por estes. Esta poesia, nascida nos subterrâneos da heresia mais poderosa do século XII, nunca mais deixou de estar presente de algum modo nas artes (ou seja, na literatura, no teatro, no cinema, na música, de algum modo na pintura), até hoje; e atingiu sua perfeição daninha nas óperas de Wagner, no século XIX – é o gnóstico amor à morte fantasiado de paixões e idílios adúlteros e/ou impossíveis. E, afinal, ainda que já sem o fundo mais estritamente gnóstico, não é o que ouvimos até hoje na música popular, no jazz, no samba, na bossa-nova, no tango, no bolero, na canção francesa, etc.? O “chororô” meloso e a “dor de cotovelo” ainda avassalam a alma do povo: é mais emocionante e romântico um amor impossível ou perdido que um amor efetivo de que resultem matrimônio indissolúvel e filhos. – Mas, voltando à música erudita, se é verdade que Palestrina compôs poucos madrigais ao velho estilo dos cátaros Fedeli d’Amore, e compôs muitos madrigais espirituais que se inscrevem no melhor da música religiosa não litúrgica, o fato é que dos maiores compositores do século XIV aos dias de hoje só seis – salvo engano meu  escaparam totalmente à velha influência cátara: o católico John Browne (1453-1500), que só compôs música religiosa polifônica (e que só recentemente descobri); Francisco Luis de Victoria (1548-1611), sacerdote espanhol que só compôs música litúrgica polifônica; o católico Arcangelo Corelli (1653-1713); o luterano Johann Sebastian Bach (1685-1750); o católico Anton Bruckner (1824-1896); e o ortodoxo Arvo Pärt (1935-  ). Alguns escaparam quase totalmente: Palestrina, como dito; o católico Heinrich Ignaz von Biber (1644-1704); o luterano Dieterich Buxtehude (1637-1707); o católico Michel-Richard Delalande (1657-1726); o católico François Couperin (1668-1733); o católico Jan Dismas Zelenka (1679-1745); o católico César Franck (1822-1890); o católico Charles-Marie Widor (1844-1937); Franz Schmidt (1874-1939); e poucos mais.       

Mas escutemos o Stabat Mater de Palestrina.


sábado, 17 de julho de 2021

O texto integral do “Stabat Mater”

 O texto latino vem acompanhado de duas traduções ao português: uma mais literal, e outra (em itálico), de Ricardo Dias Neto, que busca reproduzir também o esquema métrico e rítmico dos versos – tetrâmetros trocaicos – originais. – Como se verá, ademais, alguns versos latinos têm variantes.

1 Stabat Mater dolorosa iuxta crucem lacrimosa dum pendebat Filius

– Em pé, a Mãe dolorosa, chorando junto à cruz da qual pendia seu Filho

De pé, a Mãe dolorosa junto da cruz, lacrimosa, via o Filho que pendia

2 Cuius animam gementem contristatam et dolentem pertransivit gladius

– Cuja alma gemente, entristecida e dolorida por causa da espada que atravessou

Na sua alma agoniada enterrou-se a dura espada de uma antiga profecia

3 O quam tristis et afflicta fuit illa benedicta Mater Unigeniti

– Oh, quão triste e quão aflita estava ela, a mãe bendita do Unigênito

Oh! Quão triste e quão aflita entre todas, Mãe bendita, que só tinha aquele

Filho

4 Quae moerebat et dolebat et tremebat cum videbat nati poenas inclyti

Quae moerebat et dolebat Pia Mater dum videbat nati poenas inclyti

– Como suspirava e gemia [e tremia] a Mae Piedosa, ao ver os sofrimentos de seu divino Filho

Quanta angústia não sentia a Mãe piedosa quando via as penas do Filho seu

5 Quis est homo qui non fleret Matri Christi si videret in tanto supplicio?

– Que homem não choraria se visse a Mãe de Cristo em tamanho suplício?

Quem não chora vendo isso, contemplando a Mãe de Cristo num suplício tão enorme?

6 Quis non posset contristari Matrem Christi contemplari dolentum cum filio?

– Quem não se entristeceria ao contemplar a Mãe de Cristo, condoída com seu filho?

Quem haverá que resista se a Mãe assim se contrista padecendo com seu Filho?

7 Pro peccatis suae gentis vidit Iesum in tormentis et flagellis subditum

– Pelos pecados de seu povo, viu Jesus em tormentos e submetido aos flagelos

Por culpa de sua gente vira Jesus inocente ao flagelo submetido

8 Vidit suum dulcem natum moriendo desolatum dum emisit spiritum

– Viu seu doce nascido [Filho] morrer abandonado quando entregou seu espírito

Vê agora o seu amado pelo Pai abandonado, entregando seu espírito

9 Eia Mater, fons amoris, me sentire vim doloris fac ut tecum lugeam

– Eia, mãe, fonte de amor, faz-me sentir tanto as dores que eu possa chorar contigo

Faze, ó Mãe, fonte de amor, que eu sinta o espinho da dor para contigo chorar

10 Fac ut ardeat cor meum in amando Christum Deum ut sibi complaceam

– Faz que arda meu coração de amor por Cristo Deus, para se compadecer

Faze arder meu coração do Cristo Deus na paixão para que Lhe possa agradar

11 Sancta Mater, istud agas crucifixi fige plagas cordi meo valide

– Santa Mãe, faz isto: que as chagas do crucificado sejam fortemente impressas em meu coração

O Santa Mãe, dá-me isto, trazer as chagas de Cristo gravadas no coração

12 Tui nati vulnerati tam dignati pro me pati poenas mecum divide

– As feridas de teu Filho, que por mim padeceu as penas, divide comigo

Do teu Filho que por mim entrega-se à morte assim, divide as penas comigo

13 Fac me vere tecum flere crucifixo condolere donec ego vixero

Fac me tecum pie flere crucifixo condolere donec ego vixero

– Faz-me contigo [piedosamente] verdadeiramente chorar, sofrer com o crucificado enquanto eu viver

Oh! Dá-me enquanto viver com Cristo compadecer chorando sempre contigo

14 Iuxta crucem tecum stare te libenter sociare in planctu desidero

Iuxta crucem tecum stare et me tibi sociare in planctu desidero

– Quero estar contigo junto à cruz e, de boa vontade, quero associar-me a teu pranto

Junto à cruz eu quero estar, quero o meu pranto juntar às lágrimas que derramas

15 Virgo virginum praeclara mihi iam non sis amara fac me tecum plangere

– Virgem das virgens preclara, não sejas amarga comigo, faz-me contigo chorar

Virgem, que as virgens aclara, não sejas comigo avara, dá-me contigo chorar

16 Fac ut portem Christi mortem passionis eius sortem et plagas recolere

Fac ut portem Christi mortem passionis fac consortem et plagas recolere

– Faz que eu traga a morte de Cristo, que eu participe de sua paixão e que venere suas chagas

Traga em mim do Cristo a morte, da Paixão seja consorte, suas chagas celebrando

17 Fac me plagis vulnerari cruce hac inebriari ob amorem filii

Fac me plagis vulnerari fac me cruce inebriari et cruore filii

– Faz-me ferido pelas chagas, pela cruz embriagado de amor pelo teu Filho

Por elas seja eu rasgado, pela cruz inebriado, pelo sangue de teu Filho

18 Inflammatus et accensus, per te, Virgo, sim defensus in die iudicii

Flammis ne urar succensus, per te, Virgo, sim defensus in die iudicii

Flammis orci ne succendar, per te, Virgo, fac, defendar in die iudicii

– Inflamado e abrasado, que eu seja defendido por ti, ó Virgem, no dia do Juízo

No Julgamento consegue que às chamas não seja entregue quem por ti é defendido

19 Fac me cruce custodiri morte Christi praemuniri confoveri gratia

Christe cum sit hinc (iam) exire da per matrem me venire ad palmam vicoriae

– Faz-me ser guardado pela cruz, fortalecido pela morte de Cristo e confortado pela graca

Quando do mundo eu partir, dai-me, ó Cristo, conseguir por vossa Mãe a vitória

20 Quando corpus morietur fac ut animae donetur paradisi gloria.

Amen.

– Quando meu corpo morrer, faz que minha alma alcance a glória do paraíso.

Amém.

Quando meu corpo morrer, possa a alma merecer do Reino Celeste a glória.

Amém.

quarta-feira, 14 de julho de 2021

O "Stabat Mater"

                                                                                                                     Carlos Nougué

Stabat Mater (“Permanecia a Mãe [de Cristo]”) é como se chamam dois hinos católicos: um deles também conhecido como Stabat Mater Dolorosa (“Permanecia a Mãe dolorosa”), e o outro também conhecido como Stabat Mater Speciosa (“Permanecia formosa a Mãe”). Mas Stabat Mater puro e simples é mais usado para o Stabat Mater Dolorosa, hino do século XIII atribuído já ao franciscano Jacopone da Todi, já ao Papa Inocêncio III.

O Stabat Mater Dolorosa é dos hinos cristãos mais pungentes: fala das dores de Maria Santíssima durante a crucificação de seu Filho.

Como sequência litúrgica, o Dolorosa foi supresso, juntamente com muitas outras, pelo Concílio de Trento, mas retornou ao missal por determinação do Papa Bento XIII em 1727, para a festa de Nossa Senhora das Dores.   

Desde o século XVI, o texto do nosso Stabat Mater serviu para composições musicais (algumas litúrgicas, mas a larga maioria não litúrgica) de vários e grandes artistas, entre os quais Palestrina, Vivaldi, Pergolesi, Haydn, Schubert, Rossini, Verdi, Liszt, Dvořák e Arvo Pärt. Vamos publicá-las aqui (estas e outras) ao longo dos dias. Começamos hoje, porém, com a insuperável sequência litúrgica Stabat Mater em gregoriano, de compositor anônimo.